Crianças de 0 a 4 anos são mais vulneráveis ao novo coronavírus do que o público infantil de 5 a 11, faixa etária que entrou no plano nacional de vacinação contra a Covid-19.
Oficialmente, o Brasil registrou 1.544 mortes de crianças de 0 a 11 anos por Covid-19 desde o início da pandemia. Do total, 324 delas tinham de 5 a 11. Entre 0 e 4, o número de óbitos alcançou 1.220, o que representa quase quatro vezes mais ocorrências que na faixa acima de 5.
Levantamento da Vital Strategies -organização global composta por especialistas e pesquisadores com atuação junto a governos- avalia ainda que há subnotificação de dados e projeta a omissão de 2.537 mortes no balanço da Covid.
Isso ocorre porque, como não há um diagnóstico do motivo da morte em alguns casos de SRAG (síndrome respiratória aguda grave), os óbitos entram nas estatísticas como SRAG por causa não especificada.
Com isso, o total estimado pode chegar a 4.081 mortes de crianças por Covid. Os números chegariam então a 3.249, de 0 a 4 anos, e 832, de 5 a 11 anos.
Questionado sobre subnotificações e as estimativas da Vital Strategies, o Ministério da Saúde não se manifestou.
Os dados apontam que a Covid-19 tem impactado mais crianças de 0 a 4 anos. Faixa etária que, segundo especialistas, continuará mais vulnerável à doença porque ainda não pode receber vacinas. Em alguns países, já há autorização para imunizar crianças de 3 e 4 anos.
No Brasil, há dois imunizantes aprovados pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária). O da Pfizer está liberado para crianças a partir de 5 anos, e a Coronavac, para crianças a partir de 6 anos.
Renato Kfouri, presidente do Departamento de Imunizações da SBP (Sociedade Brasileira de Pediatria), concorda que há subnotificação no Brasil. Segundo ele, um maior número de mortes na faixa etária de crianças menores de 5 anos também ocorre em outros países.
De acordo o médico, o sistema imunológico dessas crianças é mais imaturo e não responde às infecções como os mais velhos. Por isso, as vacinas de outras doenças já começam nos primeiros meses de vida.
“As crianças nessa faixa etária vão continuar mais vulneráveis [para Covid]. Por causa disso, as pessoas elegíveis [crianças mais velhas, adolescentes e adultos] devem tomar a vacina para ajudar a reduzir a circulação do vírus, continuar usando máscara, lavar as mãos”, afirmou.
Em entrevista à Folha, a presidente da Pfizer no Brasil, Marta Díez, disse que a farmacêutica pretende apresentar à Anvisa o pedido de autorização de uso da vacina da Covid-19 em crianças de 6 meses a 5 anos neste ano. Em nota, o laboratório afirmou que ainda não há previsão de data da submissão.
O Ministério da Saúde prevê em contrato com a Pfizer a possibilidade de adquirir doses para crianças de 0 a 4 anos caso a vacina seja aprovada pela agência reguladora.
Folha de São Paulo
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