Opinião

Com delay de uma semana, ministro da Justiça chega ao RN

Quando o Rio Grande do Norte contabiliza, oficialmente, 300 ataques criminosos, o ministro da Justiça, Flávio Dino, desembarca na capital potiguar, cidade dominada pelo medo provocado por facções criminosas.

A recepção à chegada do ministro foi marcada por novos ataques nesta madrugada, horas depois de Dino pisar no solo da cidade e conceder, enfim, a primeira entrevista coletiva em que prometeu mais recursos e reforço policial.

Uma semana depois da deflagração dos primeiros ataques contra um terço dos municípios do Estado.

Os recados dos marginais não cessam e os prejuízos são incalculáveis. Comércio fechado, escolas vazias, sistemas de ônibus e trens prejudicados, hotelaria e turismo afetados, shows e eventos cancelados. Até o clássico América X ABC foi adiado. É um pedaço do país ajoelhado e impotente diante do crime organizado.

A injustificada demora da pedagógica presença física do ministro no epicentro da crise é incompatível com o tamanho da insegurança que ameaça os potiguares. Pela persistência dos atos criminosos, as providências ainda são desproporcionais.

O ministro preferiu acompanhar a situação à distância enquanto o Estado pegava fogo, literalmente. A leniência está sendo questionada e Dino em vias de ser convocado para questionamentos na Comissão da Câmara dos Deputados.

Mais do que explicações, o povo do Rio Grande do Norte precisa de ações e resultados. E o Brasil espera que parte do seu território, capturado pelos bandidos, seja resgatado. Muito mais rapidamente do que o compasso do ministro da Justiça.

Por Heron Cid

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Opinião

J. R. GUZZO: O governo Lula é uma fábrica de mentiras

O presidente da República acaba de dizer, com a combinação de má-fé, de má-educação e de ignorância que habitualmente utiliza quando quer se exibir como “chefe de Estado”, que o Brasil não cresceu “nada” em 2022. É uma mentira grosseira, mal-intencionada e irresponsável. O Brasil cresceu 3% no ano passado — mais do que a China, a maravilha permanente da economia universal, coisa que não acontecia havia mais de 40 anos. Como assim, “nada”? Na mesma linha: a Petrobras, que, segundo ele, está em “ruínas” e precisa ser “reconstruída”, deu lucro de quase R$ 190 bilhões em 2022, o maior de sua história. Segundo o presidente da República, o MST “nunca invadiu terra produtiva” — quando está fazendo exatamente isso no presente momento, no sul da Bahia e na cara de todo mundo. É como se houvesse, no cargo mais importante do país, uma linha de montagem para a produção permanente de mentiras.

Onde está, diante desta manipulação de notícias comprovadamente falsas, o alto-comissariado de combate às fake news e ao “discurso do ódio” que acaba de ser criado no “Ministério dos Direitos Humanos”? Onde está a polícia nacional da verdade que enxertaram na Advocacia-Geral da União? Onde estão os furiosos inquéritos criminais e perpétuos do STF contra a “desinformação”? Onde estão as agências de “verificação” de fatos? Estão no mais perfeito silêncio, é claro, pois seu objetivo nunca foi combater notícias falsas ou promover a verdade, mas, sim, censurar e reprimir a liberdade de expressão de quem se opõe a Lula, ao PT e à esquerda em geral. Mentira é algo que se permite só para um lado — e Lula parece ter descoberto que pode ir dobrando a sua aposta até o infinito. Diz, agora, que o Brasil não cresceu “nada” em 2022. Vai dizer amanhã que o seu governo criou o salário mínimo de R$ 25 mil por mês, acabou com a saúva e inventou o ovo frito.

A mentirada de Lula tem método. Talvez nunca se tenha visto antes na história deste país um governo capaz de produzir tanta notícia ruim, em tão pouco tempo, como o Lula 3. Eles conseguiram, em dois meses, aumentar os preços da gasolina — que vinham baixando. Vão taxar as exportações da Petrobras, o que é puro dinamite. As queimadas na Amazônia bateram recorde em fevereiro. Neste mesmo mês, a venda de veículos teve o seu pior desempenho em 17 anos; o da Bolsa foi o pior dos últimos 22 anos. O MST, que manda cada vez mais no governo, se propõe a destruir o setor mais produtivo da economia brasileira. A política econômica está a cargo de um esquadrão de homens-bomba. Lula não sabe como lidar com nada disso. Diante do desastre em formação, corre para a mentira.

Revista Oeste

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LEONARDO BARRETO: “A egocracia de Lula”

Como Lula viu a briga de Ciro Gomes e Dilma Rousseff | Metrópoles
“Um dos elementos obrigatórios de qualquer bom enredo é o fato ou circunstância que força o personagem a entrar na trama”
, diz Leonardo Barreto, em artigo na Crusoé desta semana.

“O crime chocante que exige ser desvendado ou o drama familiar que suga como um buraco negro todo o seu entorno para uma catarse coletiva inevitável, o algo oculto que move o personagem até o derradeiro evento que desencadeará sobre ele as consequências boas ou más que lhes estão reservadas.”

“Na política, a vida também imita a arte. E essa introdução é um convite para analisar Lula [foto] como um personagem ou como ‘uma ideia‘, como ele mesmo se intitulou no discurso que fez pouco antes de ser preso, em 2018. Mas, nem de longe pode-se dizer que este é um exercício apenas metafórico. Nada disso, tem-se à frente um objetivo prático, isto é, entender por que Lula se comporta da maneira que vem agindo e, claro, suas consequências para o país.

“Lula demonstra ter grande pressa e não saber lidar com limites institucionais. Está pressionado pelo curto prazo autoimposto – de apenas quatro anos se não tentar a reeleição –, que vem do objetivo latente, mas bem visível, de querer superar o governo de Jair Bolsonaro em todos os aspectos desde o início […].”

O antagonista

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EDITORIAL O GLOBO: É erro grave a visão do novo governo sobre a Previdência

É um equívoco grave a forma como a equipe de transição encara a questão previdenciária. Pelas informações preliminares, a intenção é rever as regras da reforma da Previdência de 2019 em dois pontos: pensão por morte e aposentadoria por invalidez. Se houver aumento em ambas sem redução equivalente noutras rubricas, estará contratado um aumento substancial num dos maiores gastos do Estado — mais gasolina para inflamar a já explosiva bomba fiscal armada para o início da gestão Luiz Inácio Lula da Silva.

Parece inacreditável que os economistas ligados ao PT não entendam os desafios do Brasil. Com o aumento da expectativa de vida, os gastos do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS) saíram de 6% do PIB em 2002 para quase 10% no ano passado. Há vários anos a receita fica abaixo da despesa. O problema só tende a piorar com o envelhecimento da população.

Foi com o objetivo de começar a resolvê-lo que há três anos o governo Jair Bolsonaro, aproveitando negociações iniciadas na gestão Michel Temer, promoveu a reforma para aumentar o período de contribuição, elevar a idade mínima para aposentadoria e limitar o valor de pensões, entre outros pontos. Com a aprovação, calculou-se uma economia de R$ 1 trilhão no período entre 2020 e 2029. Caso o PT vá em frente com a ideia de alterar a reforma, aproximadamente 20% desse impacto positivo simplesmente virará pó.

Um novo governo deveria preparar uma nova reforma para enfrentar problemas não resolvidos pela anterior. Não falta o que fazer. Levando em conta as projeções demográficas, é preciso aumentar a idade de aposentadoria para homens, diminuir a distância nas regras para ambos os gêneros e elevar as idades exigidas no meio rural. Para não falar na barafunda de privilégios que restaram intocados, de professores a militares. O economista Paulo Tafner defende um gatilho automático para aumentar a idade de aposentadoria em função de dados demográficos.

Para justificar o aumento na pensão por morte e a aposentadoria por invalidez, integrantes da equipe de transição alegam que a reforma prejudicou os mais pobres. É uma afirmação que precisaria ser embasada com dados. Caso seja comprovado que ela foi determinante no aumento da pobreza, a equipe de transição deveria identificar as famílias afetadas, dizer quem são e onde vivem. De posse de tais informações, seria possível analisar se há programas sociais capazes de atendê-las ou demanda para criar algum outro com novo foco. Daria para atacar assim o problema de quem realmente precisa de ajuda, sem criar uma nova regra que abarca todos, dura para sempre e agrava o déficit da Previdência.

A Previdência jamais deveria ser encarada como programa social. Ela tem outra finalidade, e um dos principais problemas do arcabouço previdenciário brasileiro é justamente cumprir uma função que não está na sua natureza. Desfazer essa confusão é um objetivo que a reforma de 2019 infelizmente foi incapaz de cumprir. Criar programas sociais com foco, separados da Previdência, deveria ser outra meta de quaisquer novas mudanças.

Lula prometeu na campanha que promoveria mudanças na Previdência. Se for em frente com o plano de sua equipe de transição, jamais poderá ser acusado de ter promovido um estelionato eleitoral. O estelionato será com as gerações futuras, que ficarão com a conta.

O Globo

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Opinião

CLAUDIO DANTAS: Deputado Janones e a licença para mentir

Transição: Janones diz que Secom passará por 'ressonância' para apurar  laços com o 'gabinete do ódio' - CartaCapital
André Janones pode mentir à vontade sem ser punido. Talvez seja o único brasileiro a desfrutar dessa prerrogativa, uma espécie de foro privilegiado na era da desinformação. A licença pera mentir lhe é garantida em nome do combate ao bolsonarismo… ou carluxismo, que nada mais é do que uma atualização da máquina petista de assassinar reputações.

A mentira de Janones como método de guerrilha virtual serviu à eleição de Lula e agora o credencia a ocupar lugar de destaque no GT de Comunicação do governo de transição. O deputado federal pode até virar ministro no novo governo, com risco de reproduzir o desastre causado por Carlos Bolsonaro ao debate público.

Sim, pois a instrumentalização da militância nas redes sociais por meio de narrativas disruptivas serve, ao fim, para silenciar a oposição democrática e retroalimentar a histeria raivosa da milícia digital bolsonarista, sua equivalente na criação de inimigos imaginários capazes de justificar a política como extensão da guerra.

Na campanha e depois dela, diversas publicações do deputado já foram sinalizadas como falsas.

O antagonista

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Opinião

OPINIÃO ESTADÃO: A ignorância de Lula sobre o mercado

Eleições 2022: Lula sobre Bolsonaro: “Faz questão de ser ogro, ignorante e  de ofender” | VEJA

Como cidadão, o senhor Luiz Inácio Lula da Silva pode abominar o mercado, achar desprezível o jogo dos preços e comprar arroz, feijão, farinha, sapatos e medicamentos como se fossem produzidos, normalmente, sem a combinação de expectativas de mercado, estimativas de custos, tendências dos juros e, em muitos casos, de prospecções geopolíticas. É muito diferente, no entanto, a situação de um presidente eleito. Quem vai governar um país deve mostrar bom senso, realismo e conhecimento de fatos básicos do mundo real, mesmo sem formação especializada em assuntos econômicos, agronômicos, industriais, militares, legais, diplomáticos, sanitários e educacionais. O mercado, um ente às vezes mal compreendido e nem sempre visto com simpatia, é um componente dessa realidade.

Tendo sido líder sindical, parlamentar e presidente da República por dois mandatos, o vencedor da última eleição presidencial deveria mostrar-se mais familiarizado com esse fato. No entanto, o presidente eleito Lula da Silva tem agido, de forma insistente, como se fosse um recém-chegado ao mundo da responsabilidade pública e das grandes decisões. O tal mercado normalmente reage às declarações e ações de quem exerce ou vai exercer uma função relevante. Reações são especialmente compreensíveis quando essa função é a Presidência da República.

Qualquer pessoa com informação suficiente sobre o dia a dia dos negócios deve ser capaz de entender, portanto, os choques motivados por palavras desastradas de um cidadão recém-escolhido para governar o País.

Palavras desastradas têm sido fartas nos pronunciamentos do presidente eleito. Nada mais previsível que ações em queda e dólar em alta quando ele deixa antever qualquer desmando na condução das finanças públicas. No dia 10, ele falou da “tal estabilidade fiscal” como se fosse um assunto secundário. Diante da repercussão, acusou o mercado de ficar nervoso “à toa”. Mas as declarações infelizes têm mostrado mais que descuido ou imprudência. Revelam desconhecimento e preconceito.

Sim, o experiente político Lula mal conhece o mercado, ignora seu funcionamento e é preconceituoso em relação aos critérios de quem participa do jogo – nas finanças, na indústria, na agropecuária e nos serviços. Essa ignorância foi exibida, de forma inequívoca, na quinta-feira, quando ele se referiu à especulação: “Se eu falar isso, vai cair a bolsa, vai aumentar o dólar. Porque o dólar não aumenta e a bolsa cai por conta das pessoas sérias, mas por conta dos especuladores que vivem especulando todo santo dia”.

Ao revelar sua visão ingênua da especulação, o presidente eleito escancara seu despreparo para cuidar de certos assuntos e um preconceito surpreendente. Especulação, em sentido próprio, é, sim, coisa de gente séria. Quem toma decisões com base na avaliação de hipóteses, na ponderação de sinais às vezes muito limitados e em probabilidades às vezes mal conhecidas está especulando.

Uma alteração repentina do tempo no Brasil, na Austrália ou na Argentina pode motivar uma revisão das projeções no mercado agrícola no qual safras são negociadas desde antes do plantio, com preços sujeitos a muitos fatores, como chuvas ou estiagens fora dos padrões esperados ou mudanças nas políticas de juros.

Não só grandes negociantes participam do jogo. Um pequeno produtor de feijão leva em conta fatores bem definidos, como a política de preços mínimos, e outros bem menos seguros, como a expectativa de mercado, ao decidir a extensão do novo plantio. Com ou sem lances espetaculares, decisões baseadas em projeções, expectativas e às vezes em apostas elementares podem ocorrer em muitos mercados – nos de moedas, de ouro, de títulos públicos e privados, de combustíveis, de minerais estratégicos e de alimentos. Parte do dinheiro movimentado nesse cassino acaba financiando a produção valorizada por quem condena a tal especulação. Talvez algum economista do PT conheça esses fatos. Se passar a informação ao seu líder, poderá poupá-lo de novas demonstrações de apedeutismo.

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Brasil

EDITORIAL ESTADÃO: Lula ainda está no palanque

O presidente eleito Luiz Inácio Lula da Silva conseguiu acabar com o clima de lua de mel que havia se criado em torno de sua eleição. Com o fim antecipado do calamitoso governo Jair Bolsonaro, todas as atenções se voltaram para os trabalhos da equipe de transição, a escolha dos nomes que farão parte desses grupos técnicos e, sobretudo, a política econômica que vai nortear a administração petista. Mas a chegada de Lula a Brasília pôs por terra as ilusões de que a responsabilidade fiscal será um marco de seu terceiro mandato.

A nomeação de Geraldo Alckmin como chefe do gabinete de transição havia gerado expectativas positivas sobre o futuro governo, a ponto de conter a desconfiança gerada pela onipresença dos ex-ministros Gleisi Hoffmann e Aloizio Mercadante na coordenação dessas atividades. A escolha do grupo que fará as propostas para a área econômica foi bem recebida, ainda que insuficiente para sanar as incertezas a respeito da condução da economia. As articulações em torno da elaboração de uma Proposta de Emenda à Constituição (PEC) para retirar os gastos do Bolsa Família do teto de gastos, no entanto, foram malvistas. A tudo isso se somou a dura realidade, com a divulgação do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) de outubro comprovando a força e a consistência da inflação.

Depois de se reunir com autoridades do Legislativo e do Judiciário, num esforço para resgatar a institucionalidade das relações entre os Poderes, Lula foi ao Centro Cultural Banco do Brasil (CCBB) para encontrar parlamentares. Era o momento para aproveitar a visibilidade que a eleição lhe conferiu para se apresentar como um estadista à altura dos desafios do País que assumirá em menos de dois meses. Suas falas, no entanto, lembraram o período de campanha, quando os candidatos abusam do pensamento mágico para prometer o que podem e o que não podem cumprir. Esse é um papel que Lula perdeu o direito de interpretar a partir do momento em que se sagrou vencedor da disputa presidencial, em 30 de outubro.

“Por que as pessoas são levadas a sofrer por conta de garantir a tal da estabilidade fiscal desse país? Por que toda hora as pessoas falam que é preciso cortar gastos, que é preciso fazer superávit, que é preciso fazer teto de gastos? Por que as mesmas pessoas que discutem teto de gastos com seriedade não discutem a questão social neste país?”, questionou Lula. O presidente eleito fez comparações descabidas, chegando a criticar a existência de metas de inflação e a ausência de um regime de metas para o crescimento do Produto Interno Bruto (PIB). Voltou também a defender a ideia de que há gastos que precisam ser encarados como investimento, como se questões semânticas fossem capazes de resolver o descalabro fiscal em que o País se encontra. “É um discurso de PT pelo PT, que ignora os apoios recebidos”, definiu a economista Elena Landau, em entrevista ao Valor.

O mercado financeiro reagiu imediatamente. A bolsa despencou, a curva de juros subiu e o câmbio disparou. Em menos de dez dias, toda a boa vontade com o governo eleito acabou. Se Lula pensava em adiar a escolha da composição de sua equipe econômica e dos futuros ministros da Fazenda e do Planejamento para conter brigas entre aliados, seu próprio discurso o emparedou perante os investidores. Agora, somente o anúncio de um nome efetivamente comprometido com a responsabilidade fiscal poderá reverter as péssimas expectativas que se formaram a respeito de seu futuro governo.

Se a construção da narrativa de uma frente ampla funcionou para a eleição, ela é insuficiente para montar um governo de coalizão. Ao insistir em manter um clima de campanha, comportamento que, aliás, lembra muito o de seu antecessor, Lula desmoraliza os esforços de seu próprio gabinete de transição, que vinham sendo bem conduzidos por Alckmin. Responsabilidade fiscal, afinal, não é capricho: é condição obrigatória para reconstruir as políticas públicas devastadas por anos de bolsonarismo. É hora de descer do palanque.

Estadão

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Brasil

LEONARDO BARRETO: “Em 15 estados, Bolsonaro cresceu 10 vezes mais que Lula e já pode estar liderando corrida presidencial”

Em artigo exclusivo para O Antagonista, o cientista político Leonardo Barreto, diretor da Vector Research, defende o uso dos recortes estaduais das pesquisas presidenciais para se aproximar da real intenção de voto do eleitor. Ao calcular a média ponderada desses índices no segundo turno, Barreto diz que Lula e Jair Bolsonaro “estão mais próximos do que o registrado nas pesquisas nacionais, com possibilidade de o atual presidente já estar na frente”.

Segundo ele, o diagnóstico sugere que a abstenção terá papel fundamental no resultado do dia 30.

“As empresas nacionais de pesquisa convergiram recentemente para um cenário de empate técnico com uma ligeira vantagem de Lula sobre Jair Bolsonaro (52 x 48). É sabido, no entanto, que houve muita dificuldade de captar o voto bolsonarista no primeiro turno e o mesmo fenômeno pode se repetir no próximo domingo.

Levantamento feito pela Vector Research, empresa de risco político localizada em Brasília, listou as últimas pesquisas estaduais com perguntas para presidente em 15 estados (ver tabela). 

Os dados sugerem que Lula e Bolsonaro estão mais próximos do que o registrado nas pesquisas nacionais, com possibilidade de o atual presidente já estar na frente. Na média ponderada, considerando o peso de cada estado sobre o total de votos, Bolsonaro cresceu dez vezes mais do que Lula (7,81 x 0,78), dando força à hipótese de que o estoque de votos petistas chegou perto o limite no primeiro turno. O critério para a escolha do estudo é sempre o último relatório divulgado, sem discriminação de autor. 

A questão, no entanto, é: o crescimento é o suficiente para uma virada? Os resultados dos estados com pesquisa disponível foram agregados aos dos estados sem pesquisa. Nesse caso, repetimos a votação do primeiro turno na simulação. O placar passou a ser de 49,05 x 49,00. Empate absoluto. 

Lembrando que, nos 12 estados restantes onde não há pesquisa disponível, Bolsonaro e Lula venceram em 6 cada um. 

O modelo acima tem limites óbvios. Mas não é de todo inútil, pois indica uma valência muito positiva para Bolsonaro no quesito de transferência de votos. 

Essa situação reforça o diagnóstico de que a abstenção terá um papel central no resultado, algo que nunca foi considerado como variável importante em todas as eleições anteriores realizadas desde 1989. Ou seja, o eleitorado que quiser mais, o mais mobilizado, com maior comparecimento, é o que deve ganhar a eleição.”

O Antagonista

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Opinião

J.R. GUZZO: TSE se transformou em facção política em favor de uma candidatura

Nunca antes, na história das eleições nesse país, um candidato usou tanto a posição de força que tem no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para censurar o que o seu adversário de campanha diz nos órgãos de imprensa e nas redes sociais. Nunca houve, ao mesmo tempo, um TSE como esse – um organismo de Estado que abandonou sua obrigação de operar de maneira neutra o mecanismo da votação e apuração dos votos, e se transformou numa facção política em favor de uma candidatura e contra a outra.

Agora, neste final de campanha, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o TSE se empenham num esforço neurótico de superação. Lula não se contenta mais em censurar o que o concorrente diz dele. Quer censurar também o que ele próprio, Lula, já disse no passado – em público, por sua livre e espontânea vontade e com a costumeira arrogância de quem se julga capaz de decretar o que é a verdade sobre tudo que existe no mundo. Acha, agora, que uma porção das coisas que disse pode lhe tirar votos, e exige que o TSE proíba a sua divulgação. O TSE concorda.

Lula afirmou, tempos atrás, que “a natureza” tinha feito um grande favor ao Brasil, quando mandou a covid para cá. “Ainda bem”, disse ele. Assim as pessoas aprendem a “importância do Estado” – ou, mais exatamente, aprendem a obedecer ao governo.

Poucas afirmações poderiam deixar tão claro como Lula vê o Brasil – uma massa de gente que está aí para servir ao deus único do seu “Estado”, e, naturalmente, a quem manda nele. Tudo bem. Mas se ele pensa assim, por que não tem a coragem mínima de assumir a responsabilidade pelo que disse há tão pouco tempo atrás, e disse com tanta empáfia?

A verdade é que Lula não tem convicção séria nenhuma – só tem interesses, e só diz o que lhe parece render mais proveito pessoal no momento em que está falando. Agora já é outro momento, e ele vê que a sua oratória de outro dia sobre a covid pode lhe fazer mal na hora da eleição. Corre, então, para pedir censura ao TSE: “Proíbam que alguém divulgue o que eu falei”, exige ele. O TSE executa no ato – se censura o que os outros dizem de Lula, qual é o problema de censurar o que ele diz de si mesmo, se é isso que os seus advogados estão querendo?

Lula chega à véspera da eleição fazendo um esforço extraordinário para mostrar ao eleitor que ele não pensa nada sobre coisa nenhuma; acha que é mais seguro, para sua candidatura, não se comprometer com coisa nenhuma e ficar na repetição de bobagens que lhe rendem palmas nos auditórios do PT – do tipo “eu vou devolver a felicidade a este país”. Não quer, nem mesmo, responder alguma pergunta feita em público. Diz que todos já o conhecem, que ele não deve explicações a ninguém e que não precisa mais demonstrar o seu gênio sem limites na política do Brasil e do mundo. É esse o seu projeto de governo.

J.R. Guzzo – Estadão

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