As farmacêuticas Moderna e Merck, MSD no Brasil, anunciaram ontem (13), resultados da segunda, e penúltima, fase dos testes clínicos de uma vacina terapêutica personalizada para o melanoma – tipo de câncer de pele mais letal. A aplicação, que utiliza a tecnologia de RNA mensageiro (RNAm) impulsionada pelas doses desenvolvidas para a Covid-19, levou a uma redução da recorrência do tumor ou de morte pela doença de 44% entre os pacientes.
Com os resultados promissores, inéditos no uso da tecnologia no combate ao câncer, os laboratórios pretendem conversar com as agências reguladoras para dar início à fase 3 dos testes clínicos, última etapa antes de uma possível aprovação, em 2023. Além disso, têm planos de expandir o uso da plataforma de forma rápida para aplicação contra outros tipos de tumores.
No comunicado, as farmacêuticas destacam que a aplicação demonstrou ser segura nos testes, sem efeitos adversos graves.
Como funciona a vacina?
O RNAm é alvo de estudos há anos, mas saiu de fato do papel com as vacinas da Pfizer e da Moderna contra a Covid-19, que comprovaram a alta eficácia e segurança da tecnologia. Para estimular a resposta imunológica, essa plataforma atua como um código de instruções que ensina as próprias células do corpo a produzirem determinada proteína.
Esse material, por sua vez, é lido pelo sistema imune para criar as defesas. No caso da Covid-19, por exemplo, o imunizante faz com que o corpo produza uma parte do próprio coronavírus, que sozinha é inofensiva, mas consegue fazer com que o organismo reconheça aquele invasor para se proteger quando for contaminado.
No caso da dose contra o melanoma, como o câncer é diferente de pessoa para pessoa, ela é chamada de vacina personalizada. Os cientistas coletam o material genético específico do tumor de determinado paciente, isolam as proteínas e depois criam o imunizante. Com isso, a aplicação ensina o sistema imune a destruir as células cancerígenas.
Essa estratégia é necessária porque os tumores carregam em si inibidores de checkpoint, proteínas responsáveis por “esconder” o câncer do sistema imunológico e, com isso, não ser atacado por ele.
Eficácia nos testes
O novo tratamento em testes consiste em uma combinação da vacina inédita com o medicamento da MSD Keytruda, um anticorpo monoclonal considerado hoje a linha de combate padrão para o melanoma. Ele também atua induzindo uma resposta do sistema imune.
No estudo, os cientistas recrutaram 157 participantes com melanoma em estágio 3 e 4 após uma cirurgia de ressecção completa do tumor. Eles foram divididos em dois grupos, em que metade recebeu apenas o Keytruda, e a outra metade a combinação com a vacina.
No total, a terapia durou cerca de um ano. Foram administrados 18 ciclos de 200 mg do medicamento a cada três semanas para o primeiro grupo e, para o segundo, também um total de nove doses da vacina. As aplicações proporcionaram uma redução de 44% na volta do tumor e nas mortes em comparação com aqueles que só receberam o Keytruda.
Mais vacinas a caminho
Outra empresa pioneira na plataforma, a BioNTech, que desenvolveu uma vacina para a Covid-19 com a Pfizer, estuda aplicações específicas para o câncer colorretal, câncer de cabeça e pescoço, câncer de ovário, de próstata e tumores sólidos. Em outubro, o casal de fundadores da empresa alemã disse que as primeiras vacinas contra o câncer podem estar disponíveis para uso até 2030.
— Nós sentimos que a cura para o câncer, ou para (ao menos) mudar a vida dos pacientes com câncer, está ao nosso alcance — Acreditamos que isso acontecerá, definitivamente, antes de 2030 — completou o professor de oncologia Ugur Sahin.
A BioNTech e a Moderna investem ainda em novos imunizantes para prevenir doenças infecciosas, como inéditos contra o HIV, a Zika e o vírus sincicial respiratório (VSR), além de novas versões mais eficazes contra o Influenza (gripe).
O Globo
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