O prefeito da cidade catarinense de Criciúma, Clésio Salvaro (PSDB), anunciou na última quarta-feira (25) a demissão de um professor de artes da rede municipal de ensino que exibiu em sala de aula o clipe da música Etérea, do cantor Criolo, que tem contexto LGBTQIA+.
Em vídeo divulgado nas redes sociais, o prefeito chamou o conteúdo do clipe de “viadagem” e pediu para que pais de alunos denunciem atividades parecidas que eventualmente ocorram em escolas da rede pública.
“Não permitimos, não toleramos, está demitido o profissional. Nas escolas do município, enquanto eu estiver aqui de plantão, isso não vai acontecer, esse tipo de atitude, essa ‘viadagem’ na sala de aula, nós não concordamos. E se os pais souberem de algo parecido que foi exposto para os seus filhos, por favor, entrem em contato com o município”, afirmou.
O vídeo com a música foi apresentado na terça-feira (24) para alunos de 14 e 15 anos, que integram o 9º ano da Escola Municipal Pascoal Meller.
O clipe e o documentário lançado com a canção contam com a participação de representantes de coletivos LGBTQIA+ nacionais. A letra da música cita uma “necessária quebra de padrões e abertura de discussões” e defende a liberdade de “amores sem imposições”.
O professor foi inicialmente criticado nas redes pela ex-candidata à prefeitura Julia Zanatta (PL), gerando repercussão na cidade. Ela afirmou em um vídeo que havia denunciado a atitude do professor à Secretaria Municipal de Educação e ao vice-prefeito de Criciúma.
“Quando a gente fala que na escola estão doutrinando as crianças e adolescentes, acham ruim, mas é. Ao invés de ensinar o que é importante, o que vai fazer diferença na vida deles, não, ficam passando lacração em sala de aula”, disse em vídeo compartilhado em seu perfil.
Segundo a presidente do Sindicato dos Trabalhadores no Serviço Público Municipal de Criciúma e Região (Siserp), Jucélia Vargas, o próprio professor, que tinha vínculo temporário com o município, pediu exoneração do cargo diante de ameaças e ataques que passou a sofrer depois da repercussão do caso.
De acordo com Jucélia, o sindicato presta apoio ao ex-servidor e estuda maneiras de reverter judicialmente a demissão. A entidade também pretende ingressar com uma ação contra o prefeito por crime de homofobia.
Jucélia afirmou que nenhuma autoridade do município entrou em contato com o professor para entender o contexto da atividade e disse que ele foi exposto nas redes sociais sem direito de defesa. “Ele é professor de artes, que é a área de conhecimento mais diversa. As artes refletem os vários conceitos, pensamentos e possibilidades”, disse.
Pelo Twitter, o cantor Criolo lamentou o episódio e lembrou que o clipe e o documentário já foram exibidos em mais de 30 festivais de cinema e instituições de arte, música e dança.
“Compartilhamos orgulhosamente o documentário novamente aqui, na esperança de que ele possa chegar mais longe, com mais pessoas entendendo e refletindo sobre o que acontece em nosso território e como o Brasil se tornou o país que mais mata sua população LGBTQIA+ em todo o planeta”, afirmou no post.
Criolo afirmou que a música, cujo clipe já teve mais de 1,1 milhão de acessos no YouTube, foi indicada ao Grammy Latino 2019 como Melhor Canção em Língua Portuguesa.
Em nota, a Secretaria Municipal de Educação de Criciúma afirmou que o conteúdo do vídeo é inapropriado e não consta no Plano de Ensino da Rede e que, por isso, está em desacordo com a proposta do Conselho Nacional de Educação e não será tolerado pela administração.
Folhapress
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