A Polícia Federal decidiu acionar forças estaduais para reforçar os cuidados com a segurança de presidenciáveis na eleição. A direção do órgão orientou suas 27 superintendências regionais a fazerem contato com as respectivas secretarias de Segurança nos estados para mobilizar esforços no processo.
A PF é diretamente responsável pela proteção dos candidatos à Presidência —com exceção do presidente Jair Bolsonaro (PL), que fica sob os cuidados do GSI (Gabinete de Segurança Institucional).
O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) é o que terá o maior efetivo envolvido, decisão que obedece regra interna da PF baseada na medição de risco detectada.
A recomendação da cúpula da PF partiu do diretor-executivo, Sandro Avelar, número dois na hierarquia do órgão. Fica sob seu guarda-chuva a área que cuida da segurança dos candidatos.
No texto, a direção da PF afirma que o “cenário atual evidencia a necessidade de somarmos esforços, haja vista o acirramento das relações entre correligionários dos principais candidatos e os incidentes já registrados na fase de pré-campanha eleitoral”.
O documento foi elaborado no final de junho, antes do assassinato de Marcelo de Arruda em Foz do Iguaçu (PR), no dia 9 de julho. O militante petista foi morto a tiros durante a festa de seu aniversário de 50 anos em um clube na cidade. Os temas da festa eram Lula e o PT.
Aos estados o órgão diz que espera contar com o serviço de inteligência das instituições, a força preventiva e ostensiva das Polícias Militares, o emprego de batedores e a disponibilidade dos Corpos de Bombeiros —além do apoio de órgãos de trânsito.
Um dos objetivos do envio do documento é definir um responsável em cada estado para centralizar a comunicação rotineira durante o processo eleitoral para que ela se dê de forma mais ágil.
O trabalho de segurança da PF se dá somente na proteção dos presidenciáveis e terá início logo após a homologação de cada candidatura em suas respectivas convenções, a partir de 20 de julho.
A decisão de contatar os estados com o objetivo de fortalecer as ações de segurança durante a campanha eleitoral vem no momento de aumento de tensão política no país.
A secretaria de segurança da Paraíba afirmou disse que tem reuniões agendadas com a PF e o TRE (Tribunal Regional Eleitoral) para tratar da segurança durante o período eleitoral.
“Estamos trabalhando de maneira coordenada e nossos órgãos operativos têm a recomendação de apoiar a PF durante as eleições, já que o pleito exige ações colegiadas. Sempre mantivemos o diálogo e integração entre as forças estaduais e a PF e neste ano não será diferente”, disse o secretário Jean Nunes.
Além da morte do militante petista em Foz do Iguaçu, outros episódios de violência política foram registrados desde o início das pré-campanhas.
No dia 7 de julho, por exemplo, um artefato explosivo foi lançado contra a área isolada em frente ao palanque onde Lula faria um ato horas depois na Cinelândia, no centro do Rio de Janeiro.
Estudantes ligados à UJC (União da Juventude Comunista) fizeram um protesto e impediram o vereador paulistano Fernando Holiday e outros pré-candidatos do partido Novo de falar em evento na Unicamp, em Campinas.
No final de junho, o juiz federal Renato Borelli foi alvo de ameaças após decretar a prisão de Milton Ribeiro, ex-ministro da Educação de Bolsonaro.
Dias depois, já em julho, o carro do juiz foi atingido por fezes de animais, ovos e terra. O ataque ocorreu enquanto Borelli dirigia o veículo em Brasília, saindo de casa em direção ao trabalho. A PF abriu inquérito para apurar os dois casos.
A preocupação tem como pano de fundo o receio de casos como o da eleição de 2018, quando Bolsonaro foi alvo de um atentando a faca em Juiz de Fora (MG).
Para este ano, entre 300 e 400 policiais federais vão participar da operação de segurança dos candidatos. O número de agentes em cada campanha será definido de acordo com uma análise de risco.
O reforço prevê várias medidas. Uma delas estipula que os candidatos devem avisar suas agendas com 48 horas de antecedência para que os policiais possam analisar a periculosidade de cada evento e fazer varreduras em determinados locais, se necessário.
A PF afirma que já investiu cerca de R$ 32 milhões no esquema de proteção a candidatos. A corporação comprou 71 veículos SUV blindados, coletes e pastas balísticas —que são usados hoje apenas pelo GSI (Gabinete de Segurança Institucional)—, uniformes e kits de pronto-socorro.
Outros R$ 25 milhões serão gastos durante a operação com despesas que envolvem diárias e passagens para os policiais envolvidos. Os valores, segundo a PF, estão dentro do orçamento deste ano.
Folha de São Paulo
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