Atravessar uma avenida tendo o suporte de uma faixa de pedestre e um semáforo que indica a parada de veículos parece uma tarefa simples. Mas esses equipamentos não são suficientes e acessíveis para todas as pessoas. Para quem tem deficiência visual, por exemplo, como é possível identificar o momento correto para a travessia?
A acessibilidade nesses casos é possível através de uma botoeira que emite um sinal sonoro indicando quando o pedestre deve atravessar a rua. Essa ferramenta existe em João Pessoa, mas ela alcança apenas 14% dos 225 semáforos instalados em toda a cidade, e por força de uma lei municipal de 2011. Ao todo, somente 32 semáforos têm botoeira sonora da capital paraibana, de acordo com dados da Superintendência de Mobilidade Urbana (Semob-JP).
Entretanto, o problema não se configura apenas pela quantidade de equipamentos disponíveis. Quem precisa desse tipo de suporte em semáforos precisa conviver também com a frequência em que essas botoeiras não funcionam. Gilvan Anísio, 62 anos, contou que em grande parte dos trajetos que passa encontra dispositivos quebrados.
“Uma vez um semáforo na [Avenida] Epitácio Pessoa, o principal corredor da cidade, estava sinalizando que os carros estariam parados, no entanto, estava liberado para eles passarem. E quando eu ia começar a travessia uma pessoa gritou para que eu não atravessasse”, relatou.
E completou: “Recentemente eu presenciei o semáforo do Shopping Sul, nos Bancários, quebrado também. Por isso, é primordial que haja uma manutenção constante na parte sonora dos semáforos. Se não houver um som que garanta que o semáforo está fechado, a gente não tem segurança para atravessar”.
Pessoas com deficiência visual enfrentam falta de acessibilidade em João Pessoa (Foto: Freepik/Reprodução)
Flagrante
Não é difícil encontrar as situações citadas pelo Gilvan. Nossa reportagem foi à Avenida Epitácio Pessoa, onde estão pelo menos duas das 32 travessias com botoeira sonora na capital paraibana, e encontrou um dos equipamentos quebrados. No mesmo local, Gilvan denunciou o curto intervalo de tempo para a travessia e o volume quase inaudível do sinal sonoro da botoeira.
“Para mim, o tempo para atravessar é suficiente. Mas se a pessoa tiver algum tipo de dificuldade de locomoção, ela tem que atravessar em duas etapas, parando no meio. O tempo é rápido e o risco é grande, porque quando o sinal abre os motoristas arrancam (aceleram)”, afirmou Gilvan.
O que diz a Semob-JP
A chefe da Seção de Sinalização Semafórica da Semob-JP, Emanuelle Santos, informou que a manutenção das botoeiras sonoras em João Pessoa é feita diariamente, e que muitas vezes os defeitos são consequência do mau uso dos pedestres. “Quando alguma falha é detectada pelos vistoriadores e pelos usuários, enviamos uma equipe ao local e a manutenção é feita. A população pode entrar em contato através dos nossos portais e pelo Centro Operacional de Trânsito e Transporte (9 8760-2134 – WhatsApp)”, afirmou
Semob-JP garante que manutenção em botoeiras sonoras é feita diariamente (Foto: Reprodução/Semob-JP)
Sobre o tempo para a travessia, denunciado à reportagem por Gilvan, Emanuelle explicou que o intervalo de segundos é determinado com base em um cálculo da distância em cada travessia. Nos locais onde a via é mais larga, a orientação é para que o pedestre aguarde no canteiro central antes de fazer uma nova travessia, determinada pelo semáforo.
Questionada sobre a ampliação da acessibilidade nas travessias de João Pessoa, a Semob-JP afirmou que um processo licitatório está em trâmite e que há um planejamento para a instalação de botoeiras sonoras em mais semáforos da cidade. “Estamos em andamento para ampliação e modernização não só das botoeiras sonoras, mas do parque semafórico como um todo. Não temos um prazo concreto, no entanto nossa expectativa é de que até o primeiro semestre de 2024 a gente já esteja em fase de implantação desses novos sistemas”, disse Emanuelle.
Com T5
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