Os investidores brasileiros digerem na sessão de hoje a miríade de recados do Banco Central ao governo federal com relação à política fiscal brasileira. Em um texto notadamente diferente do produzido em reuniões anteriores, os membros do Copom (Comitê de Política Monetária) dedicaram boa parte dos debates aos riscos da política econômica do governo ao combate à inflação.
O colegiado mostrou preocupação com a persistente desancoragem das expectativas para a pressão sobre os preços por parte dos agentes econômicos e discutiu os possíveis motivos para a visão pessimista para a inflação futura. “As expectativas de inflação, após apresentarem reancoragem parcial, seguem sendo um fator de preocupação. O Comitê seguiu avaliando que, entre as possibilidades que justificariam observarmos expectativas de inflação acima da meta estariam as preocupações no âmbito fiscal“, diz o texto.
Ainda no mesmo parágrafo, os diretores do Banco Central chamam a atenção para um motivo peculiar para a falta de consenso sobre o sucesso do combate à inflação. “A possível percepção, por parte de analistas, de que o Copom, ao longo do tempo, poderia se tornar mais leniente no combate à inflação“. O alerta diz respeito às próximas mudanças na diretoria da autoridade monetária. Em dezembro, o governo Lula poderá indicar mais dois componentes, e a percepção dos agentes econômicos é de que o o BC poderia, com essa nova configuração, ser mais tolerante com uma inflação acima da meta – o que dificulta uma aceleração nos cortes da Selic.
Além disso, as discussões sobre o impulso gastador do Planalto também tem preocupado o Comitê e podem impor, na visão do colegiado, um limite menor para as quedas de juros, com um taxa final maior que a antecipada, reduzindo o espaço para quedas na Selic. “O esmorecimento no esforço de reformas estruturais, o aumento de crédito direcionado e as incertezas sobre a estabilização da dívida pública têm o potencial de elevar a taxa de juros neutra da economia, com impactos deletérios sobre a potência da política monetária e, consequentemente, sobre o custo de desinflação em termos de atividade”, explica a nota.
A taxa de juros neutra é o patamar em que os juros não influenciariam a economia, quanto mais alta, maior os juros praticados.
Outro ponto considerado “muito relevante” pelo colegiado foi sobre a dinâmica da inflação “em caso de um crescimento sustentado pela renda e pelo consumo“. O documento não oferece resposta, mas talvez nem precise.
A ata praticamente enterra as perspectivas de uma aceleração nos cortes de juros em um horizonte de curto prazo. Além disso, deixa clara a necessidade de o Planalto revisar as diretrizes econômicas, sob pena de submeter os brasileiros ou juros mais altos por mais tempo ou aceleração da inflação.
É chegada a hora de o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, agir para a harmonização das políticas monetária e fiscal. Parece claro qual lado deve ceder.
O Antagonista
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